AVENTAIS BRANCOS
Texto de Mônica Guttmann para o livro de Audrey Landell
JUNHO 2015
Nos aventais brancos , desenham-se dores da alma
escondem-se dores do corpo
Indignações , perguntas caladas e gritos escondidos
sinaisde cansaço , resignação , medo
Palavras invisíveis e solitárias
Imagens profundas e secretas
Qual é sua / minha dor ?
Qual a sua/minha dor ???
Como cuidar do outro sem me descuidar ??
Como cuidar do outro sem que me torne indiferente e frio ?
Como lidar com aquilo que sei e aquilo que não sei ??
Como reconhecer minha impotência e arrogância ?
Minha indiferença e limites de tempo e espaço
Meus descasos e casos que fogem as regras
Minha ignorância e dos outros
Minha solidão e dos outros
Com a falta de comunicação e incompreensão
Perdas e inseguranças
gritos agudos do corpo e da alma
Como escutar as vozes absolutas e intensas do coração ???
Como ser um cuidador que verdadeiramente cuida e se cuida ?
Que vai além da superfície e busca dialogar com as causas , com aquilo que verdadeiramente nos torna doentes?
Como ser mais forte que as manipulações e seduções econômicas ?
Como sobreviver cuidando ?
Como não adoecer cuidando ?
Como se deixar cuidar , cuidando ?
Como ser um cuidador saudável e não doente ?
Qual é a sua/nossa mais profunda dor ?
Aquela que nos torna irmãos de alma e companheiros da mesma fonte ?
Qual é a verdadeira fonte de cura ?
Como cuidar da dignidade do outro sem perder a própria ?
São muitas as perguntas que uma única pergunta dispara .
Qual é a sua/minha dor ?
Reconhecer a própria dor através da dor dos outros não é simples , ainda mais para profissionais de saúde que constroem defesas rígidas para sobreviver ao dia a dia e de si mesmos e dos outros .
Cuidar dos outros sem cuidar de si mesmo é pagar um preço alto para uma grande ambiguidade e contradição .
Olhar para a própria dor é muito difícil e torna-se aparentemente mais fácil, se iludir em e olhar e cuidar da dor dos outros .
Mas preço é alto .
A dor é grande
A cura é fraca .
Olhar para a própria dor é muito difícil , mas é a única forma de verdadeiramente olharmos e buscarmos soluções reais para a dor dos outros e do mundo .
Assim , o preço pode se tornar mais justo , a dor mais branda e a cura mais efetiva .
Qual é sua / nossa dor ?
O medo de olha-la .